A perda de um animal de estimação gera muitas emoções difíceis nos tutores, incluindo uma tristeza profunda. Lidar com estas emoções é inerente ao processo de luto na medida em que é uma reação natural à morte de um ente querido – seja ele uma pessoa ou um animal. Por exemplo, ao demonstrar fisicamente o seu sofrimento, estará a lamentar activamente a morte do seu amigo de quatro patas. Ao viver activamente o seu processo de luto em vez de evitá-lo, poderá mais facilmente aceitar a sua perda.
O luto é uma questão bastante individual, não segue um padrão específico, embora segundo Elisabeth Kübler-Ross(1) possa ser dividido em cinco fases ou estágios: negação, raiva, negociação, depressão, aceitação. Não obstante, existem dicas universais que podem ser bastante úteis para quem enfrenta a perda.
Reconhecer a realidade da morte
Pode levar semanas ou meses para tomar consciência que uma perda realmente ocorreu, e tal só acontecerá no seu devido e apropriado tempo. Durante este processo de habituação a uma nova fase da sua vida sem o seu querido animal de estimação, deve-se ser compreensivo. Construir um relacionamento com o seu animal de estimação demorou algum tempo, então deveremos compreender que levará também algum tempo a se acostumar à sua ausência.
Aceitar a dor
Vivenciar pensamentos extremamente emocionais em mistura com sentimentos de conflito devido à morte de um animal é uma experiência difícil, mas necessária e importante. Poderá alcançar um processo de luto mais saudável ao dedicar algum tempo para trabalhar os seus sentimentos, ao invés de tentar ignorá-los.
Perdurar a vivência e relacionamento com o melhor amigo com recurso a memórias
As nossas memórias permitem que os animais continuem a ocupar um lugar muito especial nas nossas vidas. Vivenciar essas memórias, tanto felizes quanto tristes, pode ser um processo lento e doloroso que ocorre em pequenos passos. Você pode ter tempo para observar as fotos do seu animal de estimação, criar uma memória para o seu animal de estimação – por exemplo, escrever uma carta para ele, relembrando o tempo que passaram juntos. Da mesma forma, optar por uma peça com uma pequena quantidade de cinzas, como um pendente ou uma jóia poderá ajudar a viver o luto com uma sensação de proximidade real que lhe trará mais conforto.
Adaptar a sua identidade à nova realidade
Ao definir os nossos papéis sociais, podemos facilmente considerar-nos um protector dos animais. O mesmo pode ser pensado por outros em relação a nós mesmos – alguém pode ser “o senhor que andava sempre com o cão preto grande por perto” ou “o amigo cujo gato saltava sempre para o colo”. A adaptação a uma mudança de identidade quando o animal de estimação não está mais connosco é uma necessidade muito relevante em tempos de luto.
À procura de um sentido
Quando um animal morre, é muito frequente e natural questionarmos a importância e o objectivo de nos relacionarmos com animais de estimação na nossa vida. Aceitar estas questões na sua cabeça é outro aspecto do luto a que se deve habituar. É importante fazermos estas perguntas a nós próprios, ainda que nem sempre possamos ou precisemos de encontrar uma resposta específica para elas.
Aceitar o apoio dos outros
Num processo de luto, todos precisamos do amor e do apoio dos outros, porque o luto não pode ser “superado”. Só se pode aceitar. Falar ou estar com outros pais de animais de estimação que tenham experimentado a morte de um animal de estimação pode ser uma forma importante de satisfazer esta necessidade.
Já existem alguns grupos de apoio para pessoas que tentam lidar com o luto associado a crises pessoais ou ao fim de relações interpessoais, mas o mesmo ainda não acontece muito para as pessoas que lidam com a morte dos seus animais de estimação. Quando geridos de uma forma responsável, estes grupos podem trazer benefícios significativos aos pais de animais de estimação, ajudando-os a trabalhar através dos aspectos emocionais da ligação e da perda.
Antes de mais, é preciso lembrar que a experiência da perda pode ser diferente para cada um de nós porque é algo muito pessoal, tornando-se um desafio exigente. Vale a pena considerar que tipo de mudanças são inerentes à morte do animal de companhia.
O que vale a pena lembrar
O silêncio ensurdecedor
O silêncio em casa após a morte de um animal de estimação pode parecer excessivo. O nosso companheiro de quatro patas ocupava um espaço físico nas nossas vidas e no nosso lar, e muitas vezes a sua presença era muito sentida através dos sentidos. Quando o seu animal de estimação morre, a sua ausência, ou seja, o silêncio, torna-se avassalador. A “presença da ausência” torna-se sentida. O simples facto de estar consciente desta triste verdade ajudá-lo-á a preparar-se para surtos repentinos de emoções difíceis.
Consequências de uma ligação única com um animal
Uma relação partilhada com um animal de estimação é um laço especial e único que algumas pessoas podem achar difícil de compreender. Durante o período de luto, amigos bem-intencionados e/ou familiares podem partilhar connosco que pensam que não devemos chorar o nosso animal de estimação, ou dizendo que não devemos ficar tão tristes porque é “apenas um gato” ou “apenas um cão”. A tristeza, porém, é normal e mais que compreensiva, e a relação que desenvolveu com o seu amigo especial requer mesmo o processo de luto.
Um pesar que não pode ser valorizado
Por vezes temos um forte desejo de lamentar “desde o coração”, mas ao mesmo tempo tentamos justificar a profundidade das nossas emoções e isso é impossível. A razão não tem explicação para o que sentimos, na medida em que o racional é o oposto do emocional. Alguns quererão então “valorizar” a sua tristeza comparando as emoções associadas ao luto de um animal de estimação em relação a outras pessoas, classificando-as como “piores, menos importantes”. Embora seja normal, é bom saber que o luto é luto e requer o cuidado e respeito de qualquer pessoa que experimente a perda.
Questões de espiritualidade
Durante o luto, poderemos questionar as nossas próprias crenças sobre animais de estimação e sobre a vida após a morte. Algumas pessoas próximas também terão as suas próprias opiniões sobre este assunto, por vezes diferentes das nossas. Durante este tempo, o importante será encontrar as suas próprias respostas a perguntas incómodas e adquirir crenças individuais e pessoais. Um psicólogo, psicoterapeuta ou companheiro de luto poderá ajudar.
- Elisabeth Kübler-Ross, M.D. (08/07/1926 – 24/08/2004) foi uma psiquiatra que nasceu na Suíça. Ela é a autora do livro On Death and Dying, no qual ela apresenta o conhecido Modelo de Kübler-Ross.
// Conteúdos gentilmente cedidos pela Esthima Poland – Veternity Group. Tradução e adaptação – PerPETuate Portugal.